terça-feira, julho 05, 2016



Como é possível?

Como conseguiste despertar este lado selvagem, e retirar-me definitivamente da toca em que me escondi por todos estes anos…de onde saí muito fugazmente, e apenas por fome incontrolável de carne? Ela protegia-me dos caçadores maus, nela me escondia passando despercebido esse meu lado;

Como foi possível que fosse possível captares o meu lado dócil, meigo e domesticado que eu tão bem tenho ocultado de todo o mundo? Poucas são as pessoas que dele se apercebem, pois apenas mostro o lado duro, implacável, desinteressado de vida e teimoso que quero que vejam. E como temem e se amedrontam. E como correm e fogem de mim ao me verem assim. E como isso me dói, não porque eu ache que devam querer-me assim, mas porque não percebem que essa é a couraça que uso para combater….mas que com ela não durmo, não como, não me banho….mas que quando como, durmo e me banho, não deixo que se aproximem porque só alguém especial pode ver o que por detrás dela se esconde;

Como é que conseguiste rasgar essa película firme e dura com que me vestia, e o tenhas feito tão abrupta e docemente, que eu nem dei conta do acontecimento? Eu não comia, não dormia, não me banhava quando o fizeste! Eu estava em plena batalha…como é possível que o tenhas conseguido nessas circunstâncias?


Acordaste a Loba, colocaste tão facilmente o bichinho de estimação que há em mim, em teu colo, que agora, viciada pela TUA CARNE, dependente dos afagos do TEU SER, me exponho e submeto a ti, como uma submissa de olhos vendados, perante o seu senhor.

Oh, e como preciso agora, neste preciso momento dos teus mimos, como uma gatinha que ronrona e se roça nas tuas pernas, como uma canita que persegue os TEUS passos com um olhar, enquanto te ocupas nos teus afazeres diários…

Oh, e como me faltam os teus braços em que me enrosco, e as tuas mãos que afagam a minha pele, alisam meu cabelo, acariciam a minha face….tão doce és quando o fazes…

Oh, como queria hoje o teu corpo, e, depois de me deitares de costas para cima, te deitarias em mim, como se teu colchão fosse, e que, depois de te descolares de mim, sentar-me eu em ti, vendo-te ali, lindo, disponível, viril, mas, sobretudo, carinhoso e dócil e logo, selvagem, tu também e completamente descontrolado, arfando ao meu ouvido, dizendo palavras desconexadas e loucas, lendo a tua expressão...de prazer.

E…ah, o teu olhar, o teu sorriso, como me desarmas, como me desnudas, como me possuis…só com o teu olhar e o teu sorriso!

E a cumplicidade que estas a criar comigo? Bem dessa nem falo agora!

O que é isto que sinto?